domingo, 22 de dezembro de 2013

Promessas e cebolas

O garoto observava atentamente os dois lados da rua, os olhos arregalados (como se, quanto mais eles estivessem abertos, maior seria a sua capacidade de enxergar), e os ouvidos atentos para todo e qualquer ruído que se aproximasse dele. Sentado na beira da calçada, ele esperava. Há quanto tempo ele permanecia ali: Três minutos? Dua horas? Um dia? Não sabia. Não havia aprendido ainda a contar as horas e o presente que seu avô lhe dera no seu último aniversário – um relógio com ponteiros coloridos e números grandes e gordos – não alcançara ainda a sua utilidade. Tudo o que sabia é que era preciso esperar. Afinal, fizeram-lhe ou não uma promessa? Desde pequeno (ainda mais pequeno que hoje) aprendera que não se deve fazer promessas se estas forem infundadas e que não se deve brincar com isso. Logo, por que não confiaria na promessa de seu pai? Ele prometera que ia voltar. Ele vai voltar. Mas como demora! O compromisso para o qual ele fora chamado tão abruptamente por aqueles dois homens sérios de terno escuro devia ser muito importante, afinal. Começava a esfriar... Não havia trazido um casaco, deveria ter se lembrado disso. Só se lembrara de trazer o Tom, para lhe fazer companhia, e os biscoitos que sobraram do café da manhã, para matar a fome. Tom era o seu boneco super-herói favorito, que participava sempre de suas aventuras. Era uma pena que ele estivesse sem um braço – perdera-o em uma batalha com o inimigo da casa ao lado – mas ainda assim era uma boa companhia. E não reclamava do frio. Nem da fome. Era bom, porque assim ele ficava com todos os biscoitos para si. Sua mãe já aparecera na janela, nervosa, umas três vezes, pedindo para que ele subisse, mas ele não seria persuadido assim tão fácil. Ela estava com olhos vermelhos e parecia que lágrimas escorriam pelo seu rosto. Mamãe deve estar cortando cebola de novo... Será que o está esperando para o jantar? Mas é preciso permanecer ali: é preciso esperar. É preciso ver o papai voltar. Ele vai voltar... Mais um tempo passa. Ouve um barulho brusco. Atrás de si estão três ou quatro vizinhos conhecidos seus. Eles o erguem do chão e o levam em direção à porta do velho condomínio - está na hora de entrar. Mas...

“Ele não irá voltar” fala um dos homens da vizinhança, sem olhar para o menino, enquanto este se debatia assustado, para se soltar. Estas palavras entram em sua mente, mas é difícil entende-las. Não as compreende, mas deixa que eles o levem para cima. No terceiro andar, é deixado em frente à porta já por ele familiar. Sua mãe está lá, a sua espera. Agarra-o para dentro e começa a chorar. O garoto, assustado, corre à cozinha. Não há cebola alguma em cima da mesa...

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