O garoto observava atentamente os dois
lados da rua, os olhos arregalados (como se, quanto mais eles estivessem
abertos, maior seria a sua capacidade de enxergar), e os ouvidos atentos para todo e qualquer ruído que se aproximasse
dele. Sentado na beira da calçada, ele esperava. Há quanto tempo ele permanecia
ali: Três minutos? Dua horas? Um dia? Não sabia. Não havia aprendido ainda a
contar as horas e o presente que seu avô lhe dera no seu último
aniversário – um relógio com ponteiros coloridos e números grandes e
gordos – não alcançara ainda a sua utilidade. Tudo o que sabia é que era
preciso esperar. Afinal, fizeram-lhe ou não uma promessa? Desde pequeno (ainda
mais pequeno que hoje) aprendera que não se deve fazer promessas se estas forem
infundadas e que não se deve brincar com isso. Logo, por que não confiaria na
promessa de seu pai? Ele prometera que ia voltar. Ele vai voltar. Mas como demora! O compromisso para o qual ele fora
chamado tão abruptamente por aqueles dois homens sérios de terno escuro devia
ser muito importante, afinal. Começava a esfriar... Não havia trazido um
casaco, deveria ter se lembrado disso. Só se lembrara de trazer o Tom, para lhe
fazer companhia, e os biscoitos que sobraram do café da manhã, para matar a
fome. Tom era o seu boneco super-herói favorito, que participava sempre de suas
aventuras. Era uma pena que ele estivesse sem um braço – perdera-o em uma
batalha com o inimigo da casa ao lado – mas ainda assim era uma boa companhia.
E não reclamava do frio. Nem da fome. Era bom, porque assim ele ficava com
todos os biscoitos para si. Sua mãe já aparecera na janela, nervosa, umas três
vezes, pedindo para que ele subisse, mas ele não seria persuadido assim tão
fácil. Ela estava com olhos vermelhos e parecia que lágrimas escorriam pelo seu
rosto. Mamãe deve estar cortando cebola de novo... Será que o está esperando
para o jantar? Mas é preciso permanecer ali: é preciso esperar. É preciso ver o
papai voltar. Ele vai voltar... Mais um tempo passa. Ouve um barulho brusco.
Atrás de si estão três ou quatro vizinhos conhecidos seus. Eles o erguem do
chão e o levam em direção à porta do velho condomínio - está na hora de entrar.
Mas...
“Ele não irá voltar” fala um dos
homens da vizinhança, sem olhar para o menino, enquanto este se debatia
assustado, para se soltar. Estas palavras entram em sua mente, mas é difícil
entende-las. Não as compreende, mas deixa que eles o levem para cima. No
terceiro andar, é deixado em frente à porta já por ele familiar. Sua mãe está
lá, a sua espera. Agarra-o para dentro e começa a chorar. O garoto, assustado,
corre à cozinha. Não há cebola alguma em cima da mesa...
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