segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Mudança

Ficou em sua casa,
depois da despedida,
uma fotografia, um cartão postal, uma cachaça,
ficou também uma toalha
e um pote de filme para revelar.


Ficaram também,
aposto,
lembranças de sofá,
de travesseiro,
de alguns fios de cabelo.


É certo que não irão durar,
você estará de mudança logo.
Será fácil levar as roupas, os móveis...
As lembranças - invisíveis,
penso que esquecerás deliberadamente.
(Ficarão para o próximo inquilino, 
que não saberá o que fazer com elas:
não era pra levar tudo? pra deixar o apê vazio?)

Talvez tentes apagar
os ecos da parede
com duas camadas fortes de tinta
que vão secar antes de partir
(e talvez com algum trago forte. com alguma trepada forte).

Aqueles dois quadros,
daquela noite de segunda,
pra onde vão?
Pendurados no chão,
indicavam amor eterno
que nunca se eternizou.


Ah, deixei também na sua casa
Toda Poesia - o livro, antologia.
Faltou talvez deixar
a minha ontologia completa.

Deixei o que pude,
não peço nada de volta.
Nem palavra, nem abraço.
Deixo-te esvaziar o espaço
que querias.

domingo, 14 de setembro de 2014

All that noise

the TV's on in the room next door,
announcing some annoying talk show,
my sunday noises go backwards,
the night - a short drive with the radio on,
a cup of coffee and your breath at dusk, 
in the afternoon, kids were playing loud,
and my steps followed yours in the playground,
the young one running and laughing,
he stiffled the noise in my head,
at noon, the water boiling,
and the sound of the lightsaber,
shooting ceaselessly,
time moving ceaselessly,
and the tears that ceased,
unwilling to leave,
the bed,
in the morning, 
made no noise,
although we were both on it,
no noises or kisses,
just wondering lovers,
with wandering hands,
the deafening silence that stands,
from last night, 
from the moment the music was off,
just when I covered and shut my eyes,
myself, 
and you told me to relax,
the next day,
as we embraced,
and got up,
to put the water to boil again.

(I like

the sound
of the water
boiling,
telling
it's time
to sit down
by your
side)

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Historias que me cuento


Los fragmentos del trayecto. El regreso inevitable a la casa, en una de esas noches en que no se desea volver. Camino despacio hasta la parada del autobús. Hay otras personas que se quedan cerca. Volverían a sus casas a contento o estarían a camino de un otro sitio, la noche abierta a ellos? Es curioso que con tantas opciones possibles, uno tiene justo que tomar um autobús y regresar a la casa. Es el peligro, la incertitumbre, la desconfianza con la búsqueda, no sé. Sali de casa con hambre de vida, de noche, de encuentros, de ojos que se miran, de extraños que se vuelven cómplices de súbito. Pero no hubo más que el “un espresso por favor, gracias” en el café de la plaza quinze, el “permiso” del tipo que se sentó a mi lado en el segundo bus, el “hola” de un viejo amigo que ahora no me mira, no me habla, no me escucha como antes, y, al final, el pasar de las palomitas entre conocidos y desconocidos mientras veía una película al aire libre, en la universidad, con un “no, gracias” de mi parte. Otra vez la insaciabilidad, la ansia por conocer a otros, por compartir pequeñas percepciones día y noche adentro. Sin embargo, estamos todos aquí, dentro de un autobús, en la calle, en un lugar qualquier, sin mirarnos, sin nos interesarmos por aquel que está al lado, tan proximo, tan vivo, tan como tu proprio cuerpo.  Vuelvo a casa sin encuentros, sin miradas... Pero me doy cuenta de que soy yo que con frecuencia desvío los ojos, que me cierro como se fuera autosuficiente en mi caminada por la carretera vacía. Adentro el autobús para volver, despues de una longa espera, y me quedo a pensar se allí habría uno con el mismo anseo que yo, de continuar la noche, quién sabe de seguir juntos hasta un bar, a parlar sobre las cosas que son tan sobresalientes cuándo la noche es adentrada. La troca de sonrisas y toques, qué falta hace. Hay que reconocer, al menos, que estuve en buena compañía todo esse tiempo, la compañía que no me traiciona. Es J. C. a compartir estorias en el bus, o mientras bebo el café, o antes de la película empezar, o despues en el regreso a la casa, o cuándo se quiera. Es J. C. a me poner esperanzas, a me aliviar en noches solitarias. Paso en frente a los bares y hay tanta gente que es imposible encontrar un rostro amigo. Busco alguién, à distancia, pero no, esa noche él no hace parte de la masa que veo a segurar sus tazas con falsa seguridad y esfuerzada alegría al término del día. Cierro la búsqueda, el regreso me consolará con un vino, J. C. y mi cobija. No es tan malo, no. Habrán otras noches, siempre han. Habrán otras historias, de estas que podré contarme antes del sueño que nunca tarda. 

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Outonal

Vento sul
me acompanhou esta manhã.
Senti por entre as frestas do casaco,
e sob os pés desabrigados,
o ar fresco do outono recém-chegado.

O frio me deu ânimo. 

Porém, de súbito,
me trouxe lembranças de outro outono.

Durante o dia,
Vento sul
Ventou consigo 
o cheiro de outrora,
Deixou comigo o gosto 
vivido, 
do café, grama e abrigo,
mantido em outras estações,
mas que o verão mandou embora.

À tarde,
vento sul
trouxe esperança
à beira-mar.

Sei que aqui,
no sub-trópico,
as folhas secas sempre tardam,
mas logo hão de trazer novas cores,
quem sabe outros amores,
para que o cheiro do último ano 
não doa tanto entre as estações.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Relatório de Viagem

Cronópios e famas me contavam histórias,
enquanto eu sobrevoava nuvens desconhecidas
e anseava desbravar o mundo,
                          meu mundo,
                           e o mundo dos outros.


Um português que soava engraçado,
Um inglês direto e apressado,
Um labirinto de placas e corredores,
Um restroom que procuro como bathroom,
e me denuncio (tão ingênua e impolite!)


O táxi que não consegue chegar -
“Sorry, I can’t help you,” bi-bi-bi-bi,
na tarde mais escura que já vi.
E os ponteiros apontavam 16:30.


Inglês... Inglês... Português!... Inglês...
Desculpe, foi tão sincero que nem percebi.
As residências – gêmeas, trigêmeas, quinquagêmeas,
                                             passando pela janela,
Enquanto a gente conversava.


The Quays. 
Where are my keys?
14588312 mil portas num corredor sem fim.
A minha é logo adiante.
SQ 4.4/H.
Meu novo endereço,
com prazo de validade.
Use by... dois do sete de dois mil e onze.


Wivenhoe. Mais casas gêmeas;
                            Mas tão diferentes daquelas
                                             do novo mundo.
O rio, o frio, a Rosa e a Coroa.
1ª Carlsberg; um brinde, um fish
and chips. Smashed peas?


Tão cedo me recolho.
O caminho em zig-zag (back and forth, back and forth...)
me leva ao repouso.
Distâncias... 
Seria o céu o mesmo?
Felicidade.


Negative and questions. Lacan's Mirror Stage.
Wo liegt Wien? Bye-bye, Blackbird...


A vida em flats. Tacos, Fajitas. O bar com cara de seriado americano. Strongbowls.
Dois passos pra frente, um passo pra trás. Latin America, Photography, Environment. The ghost-train porters, uma mistura de folk, Americana, gypsy, rockabilly, with Latin and Eastern European spices. "Can I offer you a drink?" Yes, why not? And you disappear.


Pós-colonialismo aplicado.
Encontro propício ao piano:
que melodia, que cena tão distinta.
(essa realidade agora é minha,
ainda que temporária. Use by...)
A beleza das raças... dos traços da África; da Ásia; da Índia...
Lhe perguntei se não se sentia entre mundos, dividido,
sem identidade (tal como o Dev e o Adit).
Ele disse que sim.
I've never talked to anyone about this before, he said.
Sorrisos, notas e uma fotografia.

[E quando for à Londres, não deixe de passar em Bricklane]


Train Station. Possibilidades da abstração.
Do not leave your luggage unnatended. London is calling!


Amizade, surrealismo, poesia,
risadas na Soccadilly Line, noodles na sarjeta,
e uma foto derradeira na Trafalgar Square.

Back in Colchester...
Meus conhecimentos de cultura, história e geografia se multiplicam.

German, Australian, American, Romenian, Chinese, Japanese, Hong Kongnese(!),
Spanish, Greek, Arabian, Nigerian, Indian, Tchecoslovaquian, Eslovaquian,
Polnish, Moldavian...

Moldavian wine tasted funny.
E ganhou um lugarzinho especial na geografia do meu mundo.

Do you speak Russian?
Yes, Russian, Romanian, English and, now, ein bisschen Deutsch. Filmes no Lecture Theatre Building; nossa breve rotina. And you would walk me home, and I would give you a kiss on the cheek, as Brazilian girls do
(and this is all I should do).

Brazilian... Brasilianer... Brésilienne... Brasileira... Brasil...
Identidade.
Singularidade.
Essa é a minha cultura, aquela é a sua,
e aquela outra é a dele,
e nos encontramos aqui e nos damos tão bem.


Águas de março, mombojó, mas que nada.
A língua portuguesa nos ouvidos faz tão bem,
me reafirma.
Como se eu possuísse algo que você não tem.


Saudades não apertam tanto,
a vida real fica suspensa.
Tenho uma nova vista na janela;
que me acostuma, que me renova
(mas que às vezes cai em contradição).

(Best before...)


Every little helps:
A sacola de palha é o símbolo da minha independência.
Me perco entre os corredores apilhados; me equilíbrio entre o necessário
                                                                               e o supérfluo.
Sigo o ritual...
That's five, fifteen, twenty-three pounds and fifty two cents....
e retorno com a sacola mais pesada.


Partida de trem ao norte.
O mar tão próximo.
Edinburgh sob céu nublado, sombria,
tão rica de histórias, little alleys e tabernas.
Let's go to the Highlands.
O dia mais branco da minha vida.


Rotina... Leituras. Social English Classes.
London outras vezes.
The girl with the red balloon: There is always hope.
"Sun is in the sky, oh why, oh why, would I wanna be anywhere else?"


Deslocamentos. Sair da ilha pela 1a. vez.
Em abril, abriram-se as fronteiras.
Escuto "Düsseldorf", esperando vocês cruzarem o Atlântico
e chegarem na pequena estação onde eu os espero.
Nem parece que não nos vemos há tanto tempo.
É aqui que eu vivo, falei.
E dois dias depois: malas correndo, euroline journeys, train trips, movimento, movimentos, quartos para seis (bad experience), para três, para dois e mais um.  Breakfasts, vários. Restaurants, cafés, pubs, bratisseries...
The Menu, Het Menu, Das Menü, Le Menu, s'il vous plait.


Segue breve roteiro de viagem:

In LONDON, always mind the gap.
AMSTERDAM: andar sobre duas rodas é uma aventura.
In DÜSSELDORF we met no clowns.
PARIS: Ah, la Seine, la lune, e o dito "l'amour!"

Fotografias de Brassäi na Paris noturna
me fazem lembrar de um alguém longínquo.
És tu quem deveria estar aqui, a ver a lua cheia sobre o Louvre.
C'est Magnifique.
Em seguida, mais um trem e um adeus provisório a les fiancés.
Beaucoup de bonheur!

STRASBOURG; tudo o que precisava
(feijão, guaraná, samba e meilleure amie).
Mais uma vez a paz sobre duas rodas.
Que bom poder mirar a sua vida.

MAINZ, às margens do rio Reno.
Reencontros.
Hallo, meine Süsse.
We just came to say Hello.

And then, the airport. This is the nice
and friendly saver of the young and poor:
Ryanair, nice to meet you.
E, por falar nisso, você já conhece a nossalinhaderaspadinhasdasortenossoscigarros
semnicotinaounossasrevistasdepatrocinadoresounossasimperdíveisgarrafasdeáguamineralounossaspoltronasespeciaisparaquembuscamaiorconforto  nas        saídas    de emergência ?


And then, back in Colchester again.
Um mês, e mais um pouco.
Revision: Exams macht traurig.
"Nein, exams macht Leute mehr zustandig,"
er sagt.

Últimas paisagens, últimos lugares, últimos registros.
O mar, finalmente.
[E junto dele, o deck com o parque de diversões, tão frágil como se fosse de mentirinha,
como se fosse um set de um filme. Agora vivo dentro de filmes, já próximos dos créditos finais]
E o campo cheio de flores...
         Yellow flowers and smiles.
                   A nice afternoon.
                            Goodbyes. Several ones.
         One    after   the     other...



Saudades apertam mais.
                            De lá,
                   e de cá.

Busco consolo nessa tela,
em quem está a minha espera aonde parti.


Medo. Insegurança.
Mas novas visões de mundo me esperam em junho.
Eu sigo. Last call....
Correr até não mais poder.
E desço outra vez na Alemanha.
Es gibt kein Problem, ich kann noch ein bisschen Deutsch.

Viele, viele Schlösser. Florestas; caminhadas.
100 águas em 100 cores; quero morar nelas quando eu crescer.
Uma praça cheia de artistas
                   (que já não a habitam)
e um doce, doce acolho.
Ich bin sicher ich werde euch vermissen.


Túneis suíços e baguetes. Oi de novo.
Subir, subir, les Rhöne-Alps.
No alto: tão bonito.
Um vinho e, em volta,
franceses e brasileiros a hablar portunholçais.
Tudo pela comunicação.


O trem noturno, cabine 12 (ao menos sentei na janela),
personagens intermitentes e curiosos cujas faces evoco
tão vivas e distantes na minha mente.
De novo, a realidade dos outros é como um filme pra mim.
Mudaram as estações...
Parma, Bologna, Nápoli... cidades italianas são engraçadas:
vêm sempre com nome de pizza.
Senti um carinho engraçado por aquele senhor na minha diagonal.
Primeiro italiano que encontrei, e se comportava da maneira mais italiana que conheço,
à maneira dos filmes de Segunda Guerra Mundial.
Trazia uma agenda velha, gasta, e provavelmente preciosa:
não parava de riscar anotações e compromissos em páginas
já rasbicadas previamente outras dezenas de vezes.

Te observei e observei aos outros,
tão distintos, tão impacientes.
Se foram todos e eu fiquei,
esperando o amanhecer iminente.

Bari, clandestina.
BII-BII-BII-BII
Índice provável: 71 pessoas com sorte escapam de serem atropeladas por dia.
Tudo pelos Trullis brancos. O sol passa ligeiro...

E então...
Atrani, buongiorno!
Aqui sou amiga do Rei.
Aqui tenho o sono que eu quero,
na cama que escolherei.
(though one night the fuckin' Americans
from the fuckin' next door
were fuckin' screaming
and wouldn't let us fuckin' sleep)
Pingos de chuva, labirintos de escadas estreitas,
flores escarlates, limões no pé, e ah,
o mediterrâneo!
Viro meus olhos para todos os lados e afirmo que estou no lugar mais bonito que já vi.
Buongiorno, Signor!
Buongiorno, Signora!
Que tranquilidade.
Ciao, Atrani
Ciao (tchau).

Estradas de barro, paredes irregulares, pinturas desgastadas,
Templos, bares, casas de banho, bordéis (as camas de pedra ainda ali;
e anterior a elas, memórias de putas tristes                permanecem pintadas nas paredes)
Aos fundos
o vulcão que extinguiu toda a vida deste lugar;
Exceto a dos curiosos que vêm andar por aqui sedentos de história, em busca de bases concretas dos costumes que antecederam nosso viver contemporâneo.
Uma, duas, três, quatro horas.
                      e quatro camadas de areia nos meus sapatos.
Gellato no final.

Suspensas, 12 horas bonitas em Roma.

So we meet again, Ryanair.
Where to?                                          Barcelona, bonos dias,
Para ali, logo depois do mar.                  chocolate, le picasso...


Gaudi ilustra a cidade,
Mas fica difícil entrevê-lo por entre os muitos australianos,
japoneses,
portugueses,
finlandeses,
brasileiros,
argelinos,
marroquinos.

No metrô, las originales em muitos pés;
Na praça, acampamentos e um abraço apertado cheio de tinta
(no somos anti-sistema, el sistema es anti-nosotros);
E na grande manifestação de rua:
Avez vous du feu? , diz uma voz atrás de mim.
Je ne parle pas français, mais j’ai compris: No, I don’t.
E aí, meu portunhol, o seu françenhol,
y la sangria entre nosotros.
Porque no vienes conmmigo?
“Porque no quiero”.
Y te vas - a fumar um cigarro.

No fim do dia, o que me resta é um cartão de visitas de viagens a Marrocos.
Inútil. Meu próximo destino é Porto.

Ah! O Português... Que língua carinhosa,
cheia de bocadinhos, cafézinhos e pasteizinhos.
Me sinto como que em casa de um estranho
que em pouco tempo se torna um velho conhecido.

Ficam os azulejos, os sítios históricos e a maravilhosa festa de São João
(que mesmo sem fogueiras, acendeu meu coração).

Rancores só guardo frente à exuberante igreja de São Francisco.
Te banhas com ouro e sangue, daqueles que te financiaram além-mar.
No pictures, please.

Os fogos de artifício concluem minha jornada.
Em Colchester, não acontece muito mais.
Berlin e Praga ficam pra trás.

Me despeço da Inglaterra com um bom tea with milk,
Junto de uma lovely English lady,
Dentro de um retrato do pintor John Constable.
Quanta paz.

SQ4.4/H... It is empty now.
You have seen so much of me, little room.
I say goodbye and shut the door.

4 da manhã – Heathrow –
à espera do check-in,
rodeada de brasileiros.
Minha singularidade termina aí.
Minha língua, meu segredo,
já é instrumento de muitos,
e em poucas horas, será de todos.

Anseio revê-los,             
                         todos.


E num longo trajeto,
de escalas a escalas,
guichês a guichês,
salas de espera a salas de espera,
eu caminho trazendo a minha mala;
pesada, não só de casacos, livros e souvenirs,
mas de tudo aquilo que construí em mim.

domingo, 26 de janeiro de 2014

Transporte Coletivo

Tenho simpatia por essas pequenas coincidências ingênuas do dia-a-dia. Um sair da aula de francês, passar na sala costumeira e chegar ao ponto de ônibus 5 minutos mais tarde. Um pegar o ônibus do trajeto mais longo só porque ele já está ali parado, com as portas abertas e prestes a sair. Um sentar na primeira poltrona, para esticar as pernas e observar a paisagem já tão familiar correr às pressas. Um pensar breve em planos, projetos, viagens... Um pensar em ti, enquanto o ônibus percorre a rua em que costumas estar. Um lembrar que você talvez esteja passando por ali àquela hora e que eu talvez o veja por alguns segundos pela janela. Um olhar pra minha diagonal e então ver-te, não com muita surpresa, parado ali, passando pela catraca, tendo recém subido no ônibus. Naquele mesmo ônibus que eu. Naquele mesmo momento em que eu. Um esperar que você me veja. Um conseguir e você sentado na poltrona atrás da minha. Um conversar, contar as novidades, tentar esquecer do ocorrido há poucas semanas. E então um desvio de trajeto, um cemitério e o ônibus quebrado. Um ouvir o cobrador dizer (a nós dois e ao outro passageiro do fundo) que foi a água que esquentou, mas que o motorista já vai trazer outra; que não há problemas. E um ouvir você comentar “Mas assim, nesse frio?”. Um esperar que o motorista retorne, mas sem muita ansiedade, pela vontade de desfrutar do acaso de te ter por mais tempo. Um conversar mais um pouco até que o motorista enfim retorna e o ônibus continua seu trajeto, agora quase completo. Um chegar ao terminal, levantar-se, sair do ônibus. Um leve despedir-se e os caminhos separados. Por fim um sentar só no próximo ônibus, na janela que dá para o mar, e um pensar: Que doce acaso!


Florianópolis é assim: de tão pequenina como ervilha verde, os caminhos se interceptam em noites quaisquer. 

domingo, 12 de janeiro de 2014

Lágrima (def.)

Leve líquido
que lava ligeiro,
levando, límpido,
lúcidos lamentos,
lídimos e lentos,
em seu leito.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Passarinho equilibrista

Dança com as penas
ao ritmo de Hot Chip aos meus ouvidos.  

Mas canta uma canção única, de sua autoria.

Num de repente, bate as asas e vai embora. 

Achou que eu me aproximava demais,
aqui sentada imóvel no sofá da sala.