domingo, 28 de agosto de 2016

O guarda-chuva


Fotografia: Guilherme Goes













Se caem alguns respingos,
todos já se armam
e se cruzam
sem se ver.
Vestem-no diariamente
e nem adianta dizer
que a corrente
intempestiva
não irá lhes desfazer.
Que integridade
ou medo
os impede de ver
que há gente,
sim,
há passos (curtos),
sonhos (largos),
vozes distoantes,
há vida, sim,
e paredes gastas
pintadas 
com cores de fuga
de pássaro que alça vôo,
enquanto a maioria, embaixo,
não tem asas
e buscam, alguns, a troca de olhar
esbarrada
em um guarda-chuva
na calçada urbana.
Seguem
as pessoas
de guarda-chuva invisível
mesmo nos dias de sol
que os prédios talvez
escondam.