terça-feira, 15 de setembro de 2015

Rodovia

Na malha rodoviária
da grande megalópole
seguíamos trocando
conjeturas:
pela janela
o contorno de água
era lago ou rio
sutil correnteza
naquela altura
em que eu nem sabia
que você também era Lago
(Freitas)
a transbordar em mim
nas próximas horas
e na outra noite
tinha sido açude
(lembra?)
hoje era o Rodoanel
em construção
eram muros, grades, cercas
endereços e apetrechos
a desordem das calçadas
moradias verticais
nos subúrbios que rodopiam
eram igrejas universais
com desvios locais
janelas cerradas
de quem trabalha
na tarde baixa
de 7 de setembro
trânsito lento
entre conurbações paulistas
(termo que você lembrava
das aulas de geografia)
e pra quê prever 
o futuro
com o Pai Joaquim
se o presente é aqui
nessa estrada? 
naquele ônibus
era a minha urbe
expandindo-se 
com a sua
aglomerado de
corpo, pele, mãos, casacos, 
dedos, olhos, risos
fora de seus perímetros
enquanto a noite lá fora
caía
chovia 
trovejava
sem placas indicativas
nossas urbes
em co-fusão
no movimento
exploro 
os teus relevos
andarilho 
devagar
a tua pele
as vias principais
da geografia humana
há vida pulsante
nos subúrbios
já não importa em que estado
as nossas cidades adormecem
na estrada contínua
até o retorno fixo
marco a quilometragem
da chegada
em Florianópolis
(quase amanhece)
teria continuado
naquela estrada 
até o Rio Grande
e no teu lago 
permane-seria
mas em meu solo
voltei a ser 
só ilha.