Uma
vara longa a tocar o mar, nas mãos daquele que já vira muita escama na vida, que
já as tinha na própria pele. Era noite, e fazia tempo e frio.
Seu
ato em holofotes: para alguns passantes ligeiros e atentos sobre a ponte,
fixava-se como em retrato. A ponte tão ligeira, e ele, abaixo dela, inerte –
deixado ao seu próprio vagar.
A
bicicleta encostada no outro canto da passagem lhe indicava o demarcado
retorno. Paciente, ela também esperava o momento do desengano, da vibração da
corda, do subir incessante e frenético, da presa cujas lembranças terminariam
ali.
Era
com pesar que a bicicleta a levaria para a casa; mais pesar sentia ela do que o
próprio homem que arremataria a presa. Sua pele-escama amortecera o tato, já
não interpretava o ato como cruel assassinato.
Enquanto
isso, as águas se remexiam e as luzes da cidade noturna cegavam os transeuntes.
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