Tenho simpatia por essas pequenas coincidências ingênuas
do dia-a-dia. Um sair da aula de francês, passar na sala costumeira e chegar ao
ponto de ônibus 5 minutos mais tarde. Um pegar o ônibus do trajeto mais longo
só porque ele já está ali parado, com as portas abertas e prestes a sair. Um
sentar na primeira poltrona, para esticar as pernas e observar a paisagem já
tão familiar correr às pressas. Um pensar breve em planos, projetos, viagens...
Um pensar em ti, enquanto o ônibus percorre a rua em que costumas estar. Um
lembrar que você talvez esteja passando por ali àquela hora e que eu talvez o
veja por alguns segundos pela janela. Um olhar pra minha diagonal e então
ver-te, não com muita surpresa, parado ali, passando pela catraca, tendo recém
subido no ônibus. Naquele mesmo ônibus que eu. Naquele mesmo momento em que eu.
Um esperar que você me veja. Um conseguir e você sentado na poltrona atrás da
minha. Um conversar, contar as novidades, tentar esquecer do ocorrido há poucas
semanas. E então um desvio de trajeto, um cemitério e o ônibus quebrado. Um
ouvir o cobrador dizer (a nós dois e ao outro passageiro do fundo) que foi a
água que esquentou, mas que o motorista já vai trazer outra; que não há
problemas. E um ouvir você comentar “Mas assim, nesse frio?”. Um esperar que o
motorista retorne, mas sem muita ansiedade, pela vontade de desfrutar do acaso
de te ter por mais tempo. Um conversar mais um pouco até que o motorista enfim
retorna e o ônibus continua seu trajeto, agora quase completo. Um chegar ao
terminal, levantar-se, sair do ônibus. Um leve despedir-se e os caminhos
separados. Por fim um sentar só no próximo ônibus, na janela que dá para o mar,
e um pensar: Que doce acaso!
Florianópolis é assim: de tão pequenina como ervilha verde,
os caminhos se interceptam em noites quaisquer.