São muitas
as vozes
Ouvidas
diariamente:
Algumas
passam de longe,
Outras te
dão bom dia,
Algumas só
percorrem a mente.
Tem a voz
macia de quem você estima,
E a voz
cortante
Da
desarmonia
Que habita os
lugares do dia-a-dia.
Tem o riso
avulso que passa
Por você na
rua, e ecoa um pouco em si,
Tem a voz
muda,
Da pessoa em
pé, segurando-se no ônibus
Às 6 e meia
da tarde,
Mas você
consegue escutá-la,
ela exala
através dos braços cansados.
Tem a voz
que pede por atenção
E encontra,
em sua maioria, olhos desviados
E fones de
ouvido, ocupados
Com outras
vozes gravadas,
Que
distraem, entorpecem,
Mas causam
tropeços na calçada.
Tem a voz
que trabalha ao seu lado,
Que você
ouve na superfície,
Mas nunca
escutou muito bem,
Porque as
vozes seguem barreiras e protocolos
Do que é
permitido ou ensinado falar
No
cotidiano.
Quantas
vozes queriam dialogar,
Cortadas na
raiz,
Ou perdidas
em palavras
Gastas, que
desejariam significar outras coisas.
Há as vozes
indesejadas
Na televisão
As fictícias
e as jornalísticas (que não excluem umas as outras)
Propagando
discursos
E
multiplicando outras vozes
Que saem de
bocas sem pensar
Mas atingem quem
pensa, e sofre.
Quantas
vozes atacam, quantas vozes se ferem,
Quantas outras
resistem.
Vozes em
diferentes línguas,
Em distintas
melodias,
Buscando se
entender.
A voz que te
apressa,
A voz que te
acalma,
E ainda as
vozes íntimas,
Aquelas que
sussurram ou já sussurraram,
Ao pé do
ouvido, adentrando o corpo,
Adentrando a
alma.
As vozes que
você sente ter ouvido
Para além da
superfície,
As que você
quis ouvir e não conseguiu,
Ou as que
desejou ouvir mais.
As vozes que
ecoam
Entre
presenças e ausências,
As vozes da
memória,
A voz de si,
da mente
Que não
desliga,
As múltiplas
vozes
Que te
compõe
E cercam.
São fluidas,
somem, se difundem, se propagam.
As vozes de
nascença,
Que estão
sempre lá.
As vozes
poéticas
Que te
colocam pra cima
(Essas você
cultive bem!)
A voz de
alguém que você imagina
Por entre
letras escritas
E nunca teve
a chance de escutar.
As vozes que
você esquece
de perguntar
“como vai?”.
As vozes que
cantam
Que afinam e
desafinam
Os dias
(des)equilibrados
entre meias-estórias, reclamações,
Piadas,
indagações, resmungos, suspiros,
Gritos,
risos, choro,
Porque choro
também é voz
Limpa e
verdadeira
Sem palavras
que contaminam.
Há vozes que
imprimem opiniões
Às vezes
infundadas,
Há vozes
acadêmicas, vozes autoritárias,
E vozes que
outros insistem ter menos valor.
Há vozes que
carregam estigmas,
Outras que
zombam
(Parem com
isso!)
E as que
querem falar sem escutar.
Há vozes nos
microfones,
Nas poesias,
Em sonhos,
E
fotografias.
Tem a(s)
voz(es) que você usa,
As que
inspiram
E respiram
em você.
Há voz feita
por gestos,
Vozes que
contam suas perspectivas,
Compartilham
vidas
Que não são
só isso,
Não podem
ser só isso.
Vozes que
não são ouvidas,
Que não
saem,
Há tanto o
que falar,
E um outro
tanto que mais valia o silêncio.
Vozes que se
unem,
E gritam
juntas um clamor que ecoa pela rua,
Ou que são abafadas
pelas buzinas,
Que voz é
essa
A das
buzinas?
E que voz é a
minha...
Que não sei
usar direito.
A voz que
quebra,
Cai
Se estatela,
Querendo
fazer chegar a outros ouvidos.
E grito,
De alguma
forma,
Em silêncio
ou em papel,
Caminhando
entre vozes que soam,
Que ecoam,
Que ecoam,
Que ecoam.